novembro 19, 2005

Pedaços n.2






Todos gritavam, o barulho estava insuportável. Ana Paula pensa porque razão continuava a aceder a estas convocatórias familiares. Estava bem disposta quando chegou ao restaurante. A sua família já estava a jantar quando tinha chegado, tendo pedido a sua comida na cozinha. As pessoas até que pareciam estar felizes, comiam com satisfação, rindo com as brincadeiras dos mais pequenos. Mas nas suas faces as mágoas estavam desenhadas em traços que apenas se conseguiam ver em situações muito particulares. E eles comiam, comiam, comiam. Depois de jantar pediu um café, o empregado já sabia como ela gostava de o beber: “Bem quente em chávena escaldada, não é menina? ”. Aqueceu as mãos na chávena, estavam geladas. O barulho parecia cada vez mais distante, até que foi desperta por uma observação: “Ana Paula não perdes de maneira nenhuma esses tiques masculinos, não vez que isso fica mal a uma senhora?”. Ouviu e só conseguiu sorrir, naquele dia tinha prometido a si mesma que não se iria aborrecer, as criticas eram constantes, no fundo ela sabia que não a criticavam por mal. Seria possível que ninguém tivesse olhos para verem quantas coisas de errado fazem? Meteu conversa com um dos miúdos que estava ao seu lado, tinha uma cara triste, após alguns minutos de conversa ambos riam. E eles gritavam, gritavam, gritavam. Ana Paula deu por si a olhar para o relógio, não queria se sentir culpada, mas não se sentia bem no meio deles e eles eram parte dela. Ela sabia que alguém esperava por ela, sabia também que eles que hoje gritavam, noutras alturas já a tinham deixado sozinha. Sabia que na vida as pessoas quando têm que escolher não pensam no seu próximo, pensam apenas que não querem ficar sós. A meio de uma conversa qualquer Ana Paula disse que tinha pressa de ir, estava atrasada para ir fazer qualquer coisa…Todos ficaram chateados, ela tinha sempre algo que fazer, tinha sempre alguém mais importante que eles. Eles não entendiam o que ela já tinha passado e que em muitas noites de conforto, cada um nas suas casas, Ana Paula batia-se com o medo da solidão e da loucura. Mas isso já tinha passado, agora eles que esperassem, porque ela não iria esperar por mais ninguém…

1 Comments:

Blogger Daniel Aladiah disse...

Querida Laura
Dentro de ti, tomo-te as mãos para as aquecer numa chávena que te acompanha nessa solidão... estás no bom caminho.
Um beijo
Daniel

1:22 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

Free Calendar from Bravenet.com Free Calendar from Bravenet.com